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- Title
A PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM EM RELAÇÃO A COMPREENSÃO DOS PACIENTES ORIENTADOS PARA A COLHEITA DE URINA.
- Authors
ENGEL, FRANCIELY DAIANA; MENEGATTI, MARIANA SBEGHEN; METELSKI, FERNANDA KARLA; KORB, ARNILDO
- Abstract
Introdução: Os exames laboratoriais são fundamentais na assistência baseada em evidências. Esta assistência é responsável por aproximadamente 70% dos diagnósticos que irão determinar a terapêutica necessária para o paciente1. O processamento dos laudos laboratoriais é realizado a partir de três fases principais: a fase pré-analítica, a fase analítica, e a fase pós-analítica. A fase pré-analítica, que aborda a requisição do exame, orientação do usuário, colheita da amostra, acondicionamento e transporte, triagem e digitação até a realização dos testes, constitui a fase em que ocorrem grande parte dos erros laboratoriais. A fase analítica contempla as operações e descrições específicas para medição e análise da amostra. A terceira fase, a pós-analítica, inicia com a conferência dos resultados, que serão repetidos, analisados e liberados para o local de origem2. A enfermagem atua especificamente na primeira fase, a pré-analítica, assim, é de suma importância que os profissionais de enfermagem realizem corretamente todas as etapas desta fase a fim de prevenir um evento adverso, o que pode comprometer o resultado do exame laboratorial e consequentemente a segurança do paciente. Uma orientação de qualidade possibilita que o paciente compreenda a relevância de seguir corretamente os procedimentos para a colheita da amostra, previna a sua contaminação, evitando um resultado do exame que poderia apresentar-se como falso positivo ou falso negativo. A partir do momento em que uma amostra é contaminada, todas as outras fases de análise laboratorial estão comprometidas, acarretando em custos dispensáveis para o sistema de saúde e implicando em riscos para o paciente, que pode ser submetido a um tratamento desnecessário. Nesse contexto, a segurança do paciente significa mais do que prevenir um evento adverso, busca adotar boas práticas de funcionamento do serviço e dos procedimentos em saúde, e uma assistência de enfermagem de qualidade3. Objetivo: Identificar o perfil dos profissionais que prestam orientações acerca da colheita do exame de urina, e conhecer a percepção deles sobre se os pacientes seguem ou não as orientações fornecidas. Método: Esta pesquisa apresenta resultados parciais de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), os quais caracterizam os participantes e um primeiro resultado do estudo. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UDESC sob o parecer consubstanciado n° 1.331.137. Foram entrevistados 45 profissionais de saúde responsáveis pela orientação da colheita de urina distribuídos nos 26 Centros de Saúde da Família (CSFs) de Chapecó. A indicação dos profissionais foi feita pelo (a) enfermeiro (a) coordenador (a) de cada CSF. As entrevistas foram realizadas individualmente, entre dezembro de 2015 e janeiro de 2016, a partir de um instrumento de coleta de dados semiestruturado. A análise dos dados foi iniciada em março de 2016. Para traçar o perfil dos profissionais entrevistados foi utilizado o software Epi Info (versão 7). Resultados: A partir das entrevistas, foi identificado o seguinte perfil dos participantes: 33,3% (n=15) tem idade entre 40 e 49 anos; 31,1% (n=14) entre 30 e 39 anos; 24,4% (n=11) 50 a 59 anos; e, 11,1% (n=5) entre 20 e 29 anos. Quanto ao sexo, 93,3% (n=42) dos profissionais são do sexo feminino e 6,7% (n=3) do sexo masculino. Dentre os participantes, 84,4% (n=38) possuíam apenas a formação de nível médio, enquanto 6,67% (n=3) tinham o ensino superior completo, 6,67% (n=3) o ensino superior incompleto e, 2,22% (n=1) pós-graduação incompleta. Em relação à categoria profissional 53,3% (n=24) dos profissionais são auxiliares de enfermagem, 40% (n=18) são técnicos de enfermagem e 6,67% (n=3) dos entrevistados são enfermeiros do CSF. A pergunta sobre o tempo de atuação no CSF revelou que 33,3% (n=15) dos profissionais estão trabalhando há menos de um ano; 15,47% (n=7) trabalham entre um e quatro anos; 31% (n=14) trabalham entre cinco e nove anos; e 20% (n=9) trabalham há 10 anos ou mais. Quando questionados sobre o tempo em que estão responsáveis pelo agendamento de exames, 40% (n=18) dos profissionais estão nesta função há menos de um ano, 20% (n=9) estão nesta função entre um e quatro anos, 20% (n=9) entre cinco e nove anos, e 20% (n=9) estão há 10 anos ou mais. As respostas dos participantes em relação a compreensão dos pacientes acerca da importância de seguir as orientações fornecidas para a execução dos procedimentos corretos para a colheita da urina apontou que 37,7% (n=17) dos profissionais acreditam que nem todos os pacientes compreendem a importância, 31,1% (n=14) acreditam que sim, o paciente compreende a importância, 26,6% (n=12) acreditam que não, o paciente não compreende a importância, e 4,4% (n=2) responderam que depende do nível de escolaridade do paciente. Quando os participantes foram questionados se acreditam que os pacientes seguem as orientações fornecidas para evitar a contaminação no momento da colheita da urina, 40% (n=18) dos profissionais acreditam que não, que o paciente não toma as precauções, 33,3% (n=15) responderam que alguns devem tomar as precauções orientadas, 20% (n=9) acreditam que sim, que o paciente faz o que lhe foi orientado, 4,4% (n=2) responderam que depende da escolaridade do paciente, e 2,2% (n=1) que a orientação profissional influencia nos atos do paciente quanto à tomar ou não as precauções orientadas. Conclusão: O perfil dos profissionais que realizam a orientação para a colheita da urina nos CSFs evidencia que a faixa etária com maior percentual de profissionais está entre 30 e 49 anos, com 55,5% dos participantes. Quanto ao sexo, há uma prevalência entre as mulheres, com 93,3%, mas podemos relacionar este dado com as próprias características da profissão, na qual ocorre o predomínio do sexo feminino. As orientações para a colheita da urina são realizadas pela enfermagem, sendo que o predomínio está para a categoria de nível médio, com 93,3% de auxiliares e técnicos em enfermagem, e 84,4% possuem a escolaridade ensino médio. A presença de profissionais com nível superior realizando a orientação para a colheita da urina nos sugere que pode haver um quadro de profissionais de nível médio reduzido em alguns CSFs. Dentre os entrevistados, 40% dos profissionais responsáveis pelas orientações desenvolvem essa atividade a menos de um ano, e destes, 33,3% também trabalham há menos de um ano no CSF. Estes percentuais evidenciam a grande rotatividade na equipe de enfermagem, e a necessidade do desenvolvimento de ações de educação permanente em saúde. A percepção dos profissionais da enfermagem é de que apenas 31,1% dos pacientes compreendem a importância de seguir as orientações fornecidas e somente 20% dos profissionais acreditam que os pacientes seguem as orientações, ou seja, na opinião dos profissionais, nem todos os que compreendem a importância seguem as orientações, e portanto, compreender a importância de realizar corretamente os procedimentos para uma colheita adequada não é condição para que os pacientes de fato a realizem. Sugere-se então, que grande parte das amostras que vão para a análise estão contaminadas, podendo gerar um diagnóstico equivocado e o tratamento de uma infecção inexistente. Esse possível tratamento requerer o uso de antimicrobianos, tornando mais complexo o cenário, especialmente pelo fato do patógeno identificado não ser oriundo da urina e sim da própria flora bacteriana da pele ou região íntima. Um entrevistado frisou que a orientação do profissional influencia nos atos do paciente na hora da colheita, que podem ou não levar em consideração o que lhes é informado. Pelo fato de profissionais repetirem as mesmas orientações diversas vezes ao dia, como no caso da colheita da urina, e acreditarem que os pacientes não estão seguindo as orientações, isso nos convida a uma reflexão acerca de como é realizada a abordagem do paciente, da qualidade da comunicação e do vínculo entre a enfermagem e o paciente, e nesse sentido, a rotatividade profissional constitui um agravante do processo. Faz-se necessário estabelecer uma comunicação clara, que sensibilize o paciente a fim de que ele siga as recomendações para a obtenção de uma amostra de urina sem contaminação, e que se abra espaço para a fala do paciente, suas dúvidas e se de fato ele compreendeu como o procedimento deve ser realizado. Além disso, a orientação que será passada ao paciente não deve ser apenas voltada ao saber científico do profissional, pois este desconsidera a dimensão socioeconômico-cultural dos indivíduos, tornando o processo de educação ineficaz4. Sendo assim, as orientações devem ser voltadas para a realidade concreta do paciente, adequando-se para que o entendimento seja o mais claro possível. A enfermagem possui um papel fundamental na orientação, devendo sempre suprir as dúvidas que o paciente possuir, dialogando sobre a importância de seguir o que está sendo dito, para que não comprometa o diagnóstico e tratamento, o que vem ao encontro das boas práticas em saúde para a qualidade da assistência à saúde.
- Publication
Brazilian Journal of Surgery & Clinical Research, 2016, Vol 15, Issue 4, p52
- ISSN
2317-4404
- Publication type
Article